Está pra sair o primeiro de janeiro,
Que chega pelado, precisando de abrigo,
Que vem impresso, expresso, depressa, vem ver
A chuva que forma cantiga.
Aparei o rascunho de barba no rosto,
O ano está acabando.
Meu cabelo está um pouco maior,
E meu corpo mais rabiscado.
Finais engruvinhados no fundo da cabeça,
Como o cabelo, eu não faço com que isso cresça.
E toda essa simplicidade do corpo traz um simplismo complicado,
Quando o agradável fica difícil de se saber de cor.
Quando você sabe que não está ganhando,
Mas perder ainda não é do seu gosto.
Ninguém nasceu para poder nascer de novo.
Te estampam isso na cara, com tinta extasiada e insípida,
Que você compra para te deixar mais jovem.
Porém, não existe a compra de um novo espírito,
Nem de uma noite passada.
Muitos fariam contas e mais contas no armazém além da calçada.
De qualquer jeito, não mudariam o jeito explícito
De não mudar nem o bairro onde morrem,
E lá vivem o tempo todo de novo, sem blusa, com uma postura rígida,
No inverno, verão, e até no inferno viverão à custa de deliberado estorvo:
Amor.
Que é de praxe, de guache, em tela cara, em papel fino,
Notas de afinadas cordas, em mau hálito de mau humor.
Em segundos antes de simbólica virada, me alucino
E te faço, sem muito porquê.
Despertadores na cabeceira?
Pantufas ao lado da cama.
Espreguiçadas ao som do vinil riscado,
Ao ritmo espaçado
Do silêncio de quem ama
Fazer a besteira
De amar sem querer.
Se eu te botei correndo na minha casa antiga?
Claro, no corredor, onde era pra ser.
Te sentei no balanço comigo,
Te sorri ao lado do limoeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário