os óculos lhe escorregavam no rosto:
um discreto reconhecimento da natureza
pelos longos momentos de busca que lhe entortaram a coluna
aquele homem aparentava ser familiar com todos os conceitos de vida,
e, inevitavelmente, buscava fazer jus ao contrário
apesar de nunca obter êxito,
havia, até então, criado circunstâncias inóspitas,
além de metáforas do mais confuso entendimento,
já que, intrigantemente, esse parecia ser seu maior impulso,
pagando a sua dívida com a curiosidade
com sua constante perda de cálcio nos ossos:
lhe parecia um preço justo, dado o absurdo
acomodado numa cadeira de tranças semi-desfeitas,
um simples ser humano percebeu seu destino,
e decidiu escrever o que apelidou de superpoema
se sentiu um tolo pela prepotência,
mas sempre admirou pequenos atos de subversão,
por mais inocente que este fosse
com um sorriso idiota nos beiços,
inconscientemente tinha os olhos cimentados na mangueira,
assim como em coloridas mangas apodrecidas
que serviam de banquete a pequenos insetos
o ciclo completo, naquele instante, era óbvio
a pequena ponta de uma indiferente caneta esferográfica
bordava o desfecho de tarde para que se desse à luz a noite
já que essas afirmações sempre lhe pareceram falsas e desesperadas
pôs-se de joelhos a implorar por um último discernimento,
algum que nunca tivesse tido,
mas esse tipo de desejo não possuía um destinatário,
e, portanto, ele não obteve resposta alguma
sacou o papel e engatilhou o que havia entendido,
pronto a disparar sob o título sua mais nova criação
quieto, o poeta não podia mais pensar,
e o peso do seu corpo, agora,
que resumiam todas suas terrenas constatações
nenhuma outra apresentou tamanha sinceridade,
sem contar a facilidade de interpretação,
que, ao mesmo tempo,
apenas alguém em paz teria o direito de clamar
esta é a história de cada um de nós
superpoema
como é lindo o céu