quinta-feira, 13 de maio de 2021

uma dor infernal

a arte que é necessária
se mostra quando é feita

da mesma forma que

a arte quando é
se faz necessária

a arte que é feita é fruto
da parte que parte, em parte,
do parto de tudo que é perto:

daquilo que eu sinto
e do que você sente

e, assim, é claro pra mim
que tudo que dá pra sentir
é regente, e, portanto,
é da gente, é nosso

a arte que é falada tem tom
que se vibra em terremoto
caso dita de jeito dito novo

ela enfurece o mar
e causa maremoto

ela é o ladrão de joias
do cinema antigo,
se disfarça vento
pra não deixar rastro

a arte obstrui a última veia
que leva o último impulso
num último pulso de vida,

vai ao bairro recém-erguido
pra ser choro recém-parido
de um olho recém-nascido

por ser fácil amar beleza,
ela apresenta delicadeza
ao se tornar, então, horrível

é quando ela se amola e autoimola,
retalha quente as memórias mais doces
pra deixar vivo só o que é inesquecível

triste é a arte que não acha o que matar,
pois não sentir é uma dor infernal

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