há uns vinte anos cri que poderia
negociar um objeto do armário:
era um pedaço de plástico torto,
sem bexiga na ponta, amassado
"leva pro seu filho, moça,
olha que bonito, ele vai adorar",
e reconheci no tom da minha voz
a grande pena que por mim sentia,
do quanto eu detestava
criar esse cenário tosco
pra poder ter mais certeza
de que eu, de fato, merecia
não ter amigo algum
essa ferida é um tiro e me matou
depois de ouvir a minha história,
voltei à loja que criei em mente,
comprei o produto que não era nada,
e que pra algum cliente imaginário
eu não obtive sucesso em vender
passei de forma despretensiosa
pra dar de cara comigo brincando,
e até as músicas que eu escutava
não imaginava que iria lembrar
meu eu criança não entendeu muito,
me deu a mão pra me levar pra sala,
com o olho tímido pegou o controle
e me pediu pra ficar mais um pouco
a conveniência que existe
em todo pequeno momento
me convenceu de que havia
tudo do mais importante
a ser feito imediatamente
hoje eu me tomei nos braços,
me dei um beijo no rosto,
pedi desculpa por não aparecer,
me deixei ali sozinho
e até agora me espero voltar
são por esses motivos quietos
que eu vivo tentando não pensar
que morro de medo de me esquecer
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