sexta-feira, 17 de junho de 2022

o concreto abraça à meia-luz as lágrimas dos de caminho sinuoso

isto é a alma que observa:
rasgam-se os lábios pra lançar no ar
fatais frases de golpes mirados

elas se estiram nos corpos,
elas são o mais grosso meio
do mais fino dos propósitos

foi vibrando em cordas firmes
de um instrumento decadente que eu ouvi
a mesma dor que o punho sente
ao se escrever meu coração

tudo que há no corpo é chumbo, é muito,
um peso imundo e muito moribundo, é fundo,
são tristes inocências que vieram a falecer

nos meus poros cavam os seus túmulos,
destoantes fins, finalidades, meras casualidades
que há bom tempo a própria terra estremeceu

por contar estória após estória,
e encontrar tortura em mesmas notas,
velhos rostos ritmados, demarcados,

os escritos e os tocados vão mostrando
nos dentes dos seus sorrisos
passo a passo, como que é se repetir

lá no fim da rua a lua sua
lágrimas de vento, nua,
não há ninguém com pano à mão
pra lhe enxugar a aflição,
ela me vê

este frio que me estoura a mandíbula
eu guardei na minha ferida,
a fim de congelar

até que a pele apele e possa
se mostrar até os ossos

eu não sangrei, e nem sequer doeu

mas, deus, como eu morri

meu deus, como eu morri

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