a gente se mata na arte,
e, quando noto,
já à força teço a forca
de sentido figurado,
com trapos ou outros achados
nesta imensa caixa suja
de passagens e passados
eu chuto a cadeira
e deus assopra no meu rosto,
assim eu lhe agradeço
por toda intensidade
a gente se mata na arte
e ressuscita afogado em choro,
como enxofre que se transmutasse
e novo aroma agora fosse,
a gente se mata na arte
e ressuscita doce
porque a arte dói,
ela te perfura,
ela quer que você se vaze
até não sobrar mais nada
porque a arte dói
é por que eu sou
porque a arte me bate,
ela me estressa,
me embebeda, me inebria,
me enjaula, é corrosiva
e me engole,
a arte é desgraçada,
e eu sigo seu exemplo
de se desembaraçar
sem pressa,
sobre escombros debruçada
é quando acordo
e de manhã logo me curvo,
implorando, outra vez,
que a arte me desafie,
eu suplico que a arte me proponha
novas chances que eu não tive a capacidade
de conseguir imaginar sozinho
eu me fundo ao que escuto,
adoro coisas que vejo,
e, enquanto caminho,
pontuo sobre o som agudo
que me vem ao ouvido,
vez em quando,
e eu não ouço nada
porque se antes só sofria eu,
agora, a arte comigo sangra,
ela é a chave da tranca
do banco onde guardo
tudo que é meu
a arte é minha,
e a arte sou eu
Nenhum comentário:
Postar um comentário